Uso mais uma vez os felinos neste artefato de arte com madeira para representar esse complexo diálogo humano animal. Eles são uma família que muito se parece com o homem, apesar do homem muitas vezes se irritar ao ver essas semelhanças.
São mostrados neste trabalho de entalhe em madeira dois leões, com alguns traços de fisionomia humana, se comportando como um casal apaixonado que troca afeto e carinho. Mas o tema não é o "humano-animal"? Onde está a figura humana nesse trabalho? Por quê chamar "humanidade" um artefato de arte que não tem figuras humanas?
A humanidade não está na forma. Ela está no conteúdo e no conjunto do trabalho. E esta humanidade que se percebe nesse artefato de arte em madeira é a "verdadeira humanidade" (cumplicidade, carinho, afetividade).
Não é difícil perceber que existe um limiar muito tênue entre a ferocidade animal e a humanidade. Creio que seja importante considerar que estas duas características não são propriedade nem do mundo selvagem nem do ser humano.
Outro elemento importante que apresento neste artefato de arte com madeira se refere à força do leão, que está, mais uma vez, associada a elementos de fragilidade (doses de docilidade e suavidade), mas que sugerem que talvez a verdadeira força não esteja somente em ser poderoso e agredir, mas também pode estar em saber baixar a guarda e ser dócil quando for preciso.
Há algo neste trabalho de entalhe em madeira que sugere a "humanidade perdida" ainda encontrada em muitos animais, que, talvez, precise ser um pouco reencontrada e reincorporada ao próprio ser humano.